Balanço o último gole
de uísque no copo enquanto a chuva cai lá fora. Casa vazia, pernas inquietas. À
esse ponto já devia ter me acostumado com dias como esse. Sabe, não sou do tipo
que se acostuma facilmente com ausência. Ainda mais se for certa ausência de
algo que nem uísque cura. A sua.
O rádio relógio me
esfrega as 02h30 da manhã na cara. Tomo mais uma dose para acalmar a insônia. Pego
as chaves do carro e quando percebo estou estacionando na frente de seu
apartamento. Eu já deveria saber, as luzes estavam apagadas. O que significa
que deve ter saído com a primeira loira que esbarrou no banheiro da balada.
Por que a bebida não
acaba com a insegurança como acaba com a timidez? Droga. Mais uma noite de
sábado querendo controlar o incontrolável: a sua irritante mania de liberdade.
Desisti de lutar contra o inevitável: você não estava mais sobre meus cuidados. A velha história de um
cuidar do outro não importava o que acontecesse já se havia desgastado e ido
bueiro abaixo com a chuva. Hora de respirar fundo e acabar com isso.
Começo a discar o número no meu celular quando reparei que
uma luz se acendeu na sala. Então seria pessoalmente, ali e agora. Abro a porta
e começo a falar, mas sou interrompida por uma mão que cobre minha boca
imediatamente seguida de um shhhh.
A sala estava lotada
de balões de gás vermelhos com nossas fotos e no centro uma fileira de balões
brancos escrito C-A-S-A C-O-M-I-G-O-? Então era isso. O motivo do mistério e do
sumiço: a surpresa elaborada.
Deixei todas as inseguranças para trás e o
beijei como se nunca o tivesse feito, depois sussurrei sorrindo em seu ouvido
um demorado: e eu tenho escolha?
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