domingo, 27 de abril de 2014

Madrugada de surpresas

    


     Balanço o último gole de uísque no copo enquanto a chuva cai lá fora. Casa vazia, pernas inquietas. À esse ponto já devia ter me acostumado com dias como esse. Sabe, não sou do tipo que se acostuma facilmente com ausência. Ainda mais se for certa ausência de algo que nem uísque cura. A sua.
     O rádio relógio me esfrega as 02h30 da manhã na cara. Tomo mais uma dose para acalmar a insônia. Pego as chaves do carro e quando percebo estou estacionando na frente de seu apartamento. Eu já deveria saber, as luzes estavam apagadas. O que significa que deve ter saído com a primeira loira que esbarrou no banheiro da balada.
   Por que a bebida não acaba com a insegurança como acaba com a timidez? Droga. Mais uma noite de sábado querendo controlar o incontrolável: a sua irritante mania de liberdade.
    Desisti de lutar contra o inevitável: você não estava mais sobre meus cuidados. A velha história de um cuidar do outro não importava o que acontecesse já se havia desgastado e ido bueiro abaixo com a chuva. Hora de respirar fundo e acabar com isso.
      Começo a discar o número no meu celular quando reparei que uma luz se acendeu na sala. Então seria pessoalmente, ali e agora. Abro a porta e começo a falar, mas sou interrompida por uma mão que cobre minha boca imediatamente seguida de um shhhh.
    A sala estava lotada de balões de gás vermelhos com nossas fotos e no centro uma fileira de balões brancos escrito C-A-S-A C-O-M-I-G-O-? Então era isso. O motivo do mistério e do sumiço: a surpresa elaborada.
     Deixei todas as inseguranças para trás e o beijei como se nunca o tivesse feito, depois sussurrei sorrindo em seu ouvido um demorado: e eu tenho escolha?

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