domingo, 27 de abril de 2014

Sobre superficialidade

    

    Flashes. Sorrisos. Caretas. Como é fácil ser feliz nas fotos né? Só dar uma arrumadinha aqui e ali, escolher o melhor ângulo e pronto, nossa vida é perfeita nas redes sociais. Queremos sempre ser bem vistas aos olhos de todos, aí está tudo bem. Mas isso é mesmo suficiente?
    O espelho nos mostra a nossa imagem e não tem jeito, acabamos escravas dela. O problema é que o espelho não é nada mais do que uma simples superfície plana, sem profundidade alguma. Pra que ter caráter quando se tem um corpo bonito, não é? A verdade é que ninguém mais liga pra o que tem além da aparência.
    Isso se comprova nas baladas. É só olhar ao redor pra perceber que a maioria não está se divertindo de verdade, porque pra isso é preciso parar de se preocupar se o cabelo ainda está no lugar, se a maquiagem está borrada ou se as unhas não quebraram.
     As pessoas têm que aprender que o tempo vai passar e a aparência não vai definir quem elas são, porque de uma maneira ou outra tudo muda mais tarde - se é que você me entende.
     Óbvio que não estou dizendo pra pararmos de nos cuidar e não ligarmos pra autoestima. É muito importante nos sentirmos bonitas e seguras sim, mas não deixar a vaidade passar por cima dos valores é essencial.
       E aí, quem você prefere agradar/ver feliz? Você ou “os outros”? 

(Texto escrito em 2011)

Madrugada de surpresas

    


     Balanço o último gole de uísque no copo enquanto a chuva cai lá fora. Casa vazia, pernas inquietas. À esse ponto já devia ter me acostumado com dias como esse. Sabe, não sou do tipo que se acostuma facilmente com ausência. Ainda mais se for certa ausência de algo que nem uísque cura. A sua.
     O rádio relógio me esfrega as 02h30 da manhã na cara. Tomo mais uma dose para acalmar a insônia. Pego as chaves do carro e quando percebo estou estacionando na frente de seu apartamento. Eu já deveria saber, as luzes estavam apagadas. O que significa que deve ter saído com a primeira loira que esbarrou no banheiro da balada.
   Por que a bebida não acaba com a insegurança como acaba com a timidez? Droga. Mais uma noite de sábado querendo controlar o incontrolável: a sua irritante mania de liberdade.
    Desisti de lutar contra o inevitável: você não estava mais sobre meus cuidados. A velha história de um cuidar do outro não importava o que acontecesse já se havia desgastado e ido bueiro abaixo com a chuva. Hora de respirar fundo e acabar com isso.
      Começo a discar o número no meu celular quando reparei que uma luz se acendeu na sala. Então seria pessoalmente, ali e agora. Abro a porta e começo a falar, mas sou interrompida por uma mão que cobre minha boca imediatamente seguida de um shhhh.
    A sala estava lotada de balões de gás vermelhos com nossas fotos e no centro uma fileira de balões brancos escrito C-A-S-A C-O-M-I-G-O-? Então era isso. O motivo do mistério e do sumiço: a surpresa elaborada.
     Deixei todas as inseguranças para trás e o beijei como se nunca o tivesse feito, depois sussurrei sorrindo em seu ouvido um demorado: e eu tenho escolha?

sábado, 26 de abril de 2014

Da série vida real, capítulo único.


Já perdi as contas de quantas vezes bati a porta do nosso quarto tentando aliviar a tensão de nossas brigas. É incrível como casamentos são muito mais bonitos nas fotos do álbum guardado naquele lugar alto do armário. Sabe, de alguma maneira eu sempre soube que quando se resolve juntar os motivos para sorrir, os desentendimentos sempre se escondem na bagagem. Só não esperava que isso acontecesse com a gente.
    Volto naquele primeiro dia da faculdade, onde esbarrei com um calouro da turma das engenharias, com o cabelo bagunçado e aquela cara –sexy- de sério. Naquele momento eu imaginei como seria acordar todas as manhãs e enxergar o seu rosto ao abrir os olhos. Eu queria isso. E de alguma forma incrível minha timidez e as tão odiadas sardas te encantaram do mesmo jeito que sua pintinha no canto da boca fez comigo.
    Casamos, nos mudamos para aquele apartamento no final da rua, tivemos outra versão de nós - um mini cara de sério, de cabelo bagunçado - e algum tempo depois, nossa primeira briga. A partir daí, a rotina vem tentando acabar com a tranquilidade do nosso relacionamento dia após dia.  
    Não estou dizendo que não te amo mais. Na verdade, até acredito que as imperfeições do nosso casamento são o que torna tudo isso real. Não quero uma vida com sorrisos artificiais e falsas declarações de “está tudo bem”. O que eu quero é exatamente isso: a vida real, a realidade com você. 
    Porque o amor perfeito não passa de mais uma ideia concreta que colocaram na nossa cabeça. Para mim, o amor verdadeiro mesmo é a capacidade de reconciliar-se depois de uma briga. E com um beijo roubado de preferência. Ei psiu, ta esperando o quê? 

Recaída aleatória


      A luz da lua cheia está invadindo a minha janela e iluminando meu quarto. A última vez que ela esteve tão grande e intensamente luminosa você ainda pertencia a mim.
       Me faz voltar no dia em que ficamos deitados naquele banco, em silêncio, escutando a respiração um do outro e observando a simetria das estrelas numa noite qualquer de outono.
      Tanta coisa mudou desde então. Agora seu riso tem outros motivos e pertence à outra pessoa. Seu sorriso torto continua lá, a maldita marca registrada que não pertence mais ao mesmo, mas a outro você.
      Agradeço por te ver por aí e não sentir o chão se despedaçando como senti milhares de vezes, o que quase significa que te superei. Não sinto mais sua falta, sinto falta do você no passado. No você que não existe mais, aquele você meu.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pelas estradas do amor


     Sabe quando a gente aprende a dirigir e demora a se acostumar com o espelho retrovisor? Bem, quando me adaptei a ele acabei me apegando mais do que deveria. E esse é mais ou menos o meu problema. Olhar muito para trás. Para o tempo que se foi e levou os dias que dinheiro nenhum faz voltar. Os dias dos amores do passado.
     Sempre fui tachada de “aquela menina do grupo que não se apaixona”. Dá pra provar que isso não é bem uma verdade quando olho para minha mão esquerda e uma aliança de ouro está aterrissada ali. É incrível como as coisas não pedem permissão para nossos planos pra acontecerem.
     Mas isso tudo não é a respeito da pessoa – incrível - que me convenceu a entrar nessa rua sem saída. Na verdade, é sobre aqueles que ficaram no espelho retrovisor. E que uma vez quase me fizeram permanecer naquele ponto de ônibus. Apesar de eu sempre pegar o ônibus para o caminho contrario deles, as lembranças sempre me fazem sorrir e, bem, pensar.
     A maioria das garotas já teve um rolo com o garoto problema que é desaprovado pelas amigas e enrosca nos pensamentos por muitas noites. Infelizmente estou incluída. Não que eu me arrependa de cada detalhe. A intensidade da troca de olhares e as conversas despreocupadas nas noites de sexta fez alguma coisa valer a pena.
    Outro tinha o combo cabeludo, craque nos cálculos, misterioso e fones de ouvido como parte do corpo. Juro que não sei o que seria de mim – ou do meu futuro- se não fosse a ajuda dele com as exatas. Nunca me esqueci do jeito tímido como falava e como ele ficava bonito concentrado.
   Outro era dançarino, mais precisamente de dança de rua. Daqueles que hipnotizam a plateia e claro, todas as menininhas loucas por caras mais velhos. No pouco tempo que estivemos juntos ele me fez sentir como se eu fosse única, sem nem ao menos saber meu sobrenome, como raras vezes me senti em toda a minha vida colegial – aquela dos caras babacas que não merecem ser lembrados.
     Apesar de tudo não passar de um “quase”, cada um deles deixou alguma coisa pra mim. Uma lembrança intensa, um pensamento feliz ou um sentimento que me levava a outros mundos.
     Cada pedacinho dos relacionamentos que ficaram comigo foram construindo o todo. E isso é a maior parte do que sou hoje. Fim.